“Vamos presumir que, por meio de algum tipo de organização,
consigamos aumentar os nossos números em medida suficiente para tratar uma
considerável massa da população. Por outro lado, é possível prever que, mais
cedo ou mais tarde, a consciência da sociedade despertará, e lembrar-se-á de
que o pobre tem exatamente tanto direito a uma assistência à sua mente, quando
o tem, agora, à ajuda oferecida pela cirurgia, e de que as neuroses ameaçam a
saúde pública não menos do que a tuberculose [...]. Quando isto acontecer,
haverá instituições, para as quais serão designados médicos [e outros
trabalhadores] analiticamente preparados, de modo que homens que de outra forma
cederiam à bebida, mulheres que praticamente sucumbiriam ao seu fardo de
privações, crianças para as quais não existe escolha a não ser o embrutecimento
ou a neurose, possam tornar-se capazes, pela análise, de resistência e de
trabalho eficiente. Tais tratamentos serão gratuitos. Pode ser que passe um
longo tempo antes que o Estado chegue a compreender como são urgentes esses
deveres. [...] Defrontar-nos-emos, então, com a tarefa de adaptar a nossa
técnica às novas condições. [...] No entanto, qualquer que seja a forma que
essa psicoterapia para o povo possa assumir, quaisquer que sejam os elementos dos
quais se componha, os seus ingredientes mais efetivos e mais importantes
continuarão a ser, certamente, aqueles tomados à psicanálise estrita e não
tendenciosa” (Freud, 1919).